Neste mês de novembro, mês da consciência negra, muita ideia relacionada às questões sociais e às mesquinharias humanas afloraram em minha cabeça. Muito ouvi falar sobre liberdade religiosa, público alvo do sistema penal brasileiro, preconceitos dos mais diversos tipos... Nos diversos debates e diálogos que participei, sobre as questões raciais, um assunto foi recorrente: as críticas ao programa Esquenta, apresentado por Regina Cazé (ou Casé), como sendo o programa mais racista da TV atual, foram sopradas aos quatro ventos.
Apesar de nunca ter assistido ao programa na integra, já que minha TV só funciona para jogar videogame e exibir filmes há 3 anos, pelo muito que ouvi e pelos fragmentos deste programa que as vezes fui obrigado a "apreciar", pude constatar que o Esquenta é a cara do Brasil. Infelizmente!
Black is beautiful! Mas ele é lindo em qualquer condição. Exercendo qualquer profissão e atividade. o "Black" é tão lindo e capaz quanto qualquer outra cor ou etnia. Diferente do que prega, o Esquenta, o negro pode ocupar qualquer lugar na esfera social. Ao menos deveria ser assim, mas não é! Esse é o motivo do Esquenta ser a cara do Brasil. Neste pais existe um "Apartheid disfarçado todo dia..". A banda Adão Negro foi certeira quando afirmou que o negro quando se olha não se vê na TV ou, nas poucas horas que se vê, está sempre na cozinha. Qual a cozinha do negro? Funk (que aqui é bem diferente do de James Brow), pagode, esportes (preferencialmente o futebol), dança... Todas essas cozinhas são perfeitamente celebradas pelo Esquenta. O triste é que olhando para fora da caixa iluminada, vemos esta máxima televisiva se repetir fora da ficção. No Brasil "O negro segura a cabeça com a mão e chora!" Basta olhar para os colégios particulares, faculdades públicas, cargos de direção e gerenciais nas empresas...
Olhe ao redor! No Esquenta, no Brasil, só cabe ao negro o papel de Pedro Pedreiro. Pior, é que de acordo com a ideia do "plim plim" este Pedro Pedreiro, que quase nunca é penseiro, deve se orgulhar e festejar o fato de ficar esperando o trem. Como bem afirmava Chico Buarque, essa ideia deve ser propagada e sacramentada... Os Pedros Pedreiros devem esperar o trem que nunca vai passar, "para o bem de quem tem bem". Mas não cabe ao Pedro Pedreiro ter bens. A realidade é que pensando ou não, na atual conjuntura de "democracia racial brasileira" Pedro sempre ficará para trás. Pedro não deve pegar o trem, nem o trem e nem o bonde da história. Pedro deve aceitar a sua condição e esperar. Esperar o Carnaval, onde ricos se divertem dentro das "cordas grandes" e ao final do cortejo (que raramente é afro) vários Pedros vão varrer as latas que outros Pedros não conseguiram catar. Vão varrer os espetinho que tantos outros Pedros conseguiram vender, pois não cabe ao Pedro Pedreiro curtir o Carnaval que ele tanto ficou esperando. Na melhor das hipóteses ele vai trabalhar criando e produzindo a música (pagode, funk, axé...) ou tentando transmitir segurança num ciclo de Pedro prendendo Pedro para inglês ver. A mão do "Pedro" passava a vida limpando o que o branco sujava...Imagina só! Mas essa é a triste realidade!
Então Pedro (Preto, pobre, mulato, quase branco ou quase preto de tão pobre), só lhe cabe aceitar a sua condição de figurante nesse programa da vida real, onde o Diretor não é Pedro. Aceite e se contente com a espera eterna do do trem! Estão conseguindo lhe vender a ideia de que não é sensato esperar alguma coisa mais linda que o mundo. Por mais que facilmente qualquer coisa seja mais linda que o pobre mundo que lhe dão acesso. Entenda de uma vez por todas que o Deus do céu da Africa do Sul não está sendo forte o suficiente para tornar vermelho o sangue daqueles que pensam ter sangue azul. Faça como o Pedro Pedreiro da música de Chico Buarque!
(...)
Pedro pedreiro tá esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro Norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo
Espere alguma coisa mais linda que o mundo
Maior do que o mar, mas prá que sonhar se dá
O desespero de esperar demais
Quer ser pedreiro pobre e nada mais, sem ficar
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol, esperando o trem
Esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho prá esperar também
Esperando a festa, esperando a sorte
Esperando a morte, esperando o Norte
Esperando o dia de esperar ninguém
Esperando enfim, nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem
A verdade é que só lhe cabe, Pedro, aceitar... ou lutar! Não cabe a Reginas, Josés, Luizes, Fernandos, ou qualquer outro decidir isso por você!
Você Pedro (negro) pode ser qualquer coisa além de Pedro Pedreiro